Conteúdos da Caixa

maio 30, 2024

 NA CASA DO SUBÚRBIO



- I -


Entrou na ponta dos pés, abriu as panelas espiando o caldo fumegante. Procurou um pedacinho de pão e enfiou no molho. Queimou a língua e bebeu água da torneira.


Uma freada brusca na rua em frente o fez arrepiar. Alguém gritou. Engoliu seco e correu para o quintal. Homens encapuzados e fortemente armados empurraram a porta que estava destrancada. No quintal o cachorro latia amarrado e as roupas estendidas na cerca ainda gotejavam


Ele veio ao encontro dos homens e levou um tapa na cabeça e saiu com eles até o bar, avistaram a moça de blusa amarela que corria descalça e fizeram-lhe um sinal e ela parou de correr, sentou-se na calçada e parecia chorar.


A rua estava vazia e no bar apenas uns gatos vigiavam o movimento da porta. A moça levantou-se e veio até o bar. Os homens a cercaram de perguntas. Ela olhou para ele e abaixou os olhos chorosos. E o levaram.


- II -


A molecada corria atrás de uma bola murcha e rasgada. No ar um cheiro de churrasco e alguma música. O bar estava fechado.


Ela trazia umas sacolas e andava sem pressa. Na esquina outras pessoas também carregavam sacolas e aguardavam a perua fretada. Um táxi parou na contramão e dele saltou um homem, moreno, forte e armado, que cumprimentou as pessoas. Parou diante dela e lhe tomou as sacolas.


Um moleque chutou com força a bola que bateu nas costas do homem. Ele se voltou e xingou os moleques e deu um tiro no traste da bola. Os meninos correram.


A perua estacionou e todos embarcaram. Ela abraçou o homem armado e correu para embarcar na perua. O homem ficou olhando o carro desaparecer na poeira.


- III -


O homem moreno e forte entrou na casa e fez festa para o cachorro. Soltou o bicho da corrente. Abriu a geladeira e pegou um refrigerante. Sentou-se num banco e ligou a TV e adormeceu ouvindo a propaganda eleitoral. Acordou com os latidos do cachorro.


Ela voltou sem as sacolas, tinha os olhos vermelhos de chorar e disse que era uma alergia. O homem fingiu acreditar. Ela ofereceu um pedaço de pudim, ele recusou. Ele perguntou pelos velhos e ela deu de ombros. Ele lhe deu algum dinheiro. Atendeu uma ligação do celular e saiu.


- IV -


Ela foi para o tanque e torceu umas toalhas e pendurou-as na cerca. Lavou os cabelos com sabão e sentou-se num banco para secar ao resto do sol. O cachorro acompanhava seus movimentos e ela fez um carinho no animal. Chegaram uns meninos que lhe pediram água,


Ela mandou que bebessem da torneira do tanque e pediu que levassem o cachorro embora.


Entrou em casa, os cabelos ainda molhados, trancou a porta e se jogou no sofá. Acendeu um cigarro e desligou a TV. Dormiu e sonhou.


- V -


Os velhos estavam em casa de parentes. Foram poupados da tragédia e sua criança era apenas uma vaga lembrança.


Raspou o resto do cozido da panela, lavou a louça, colocou suas roupas na mala, olhou-se no espelho, trancou a porta e foi para a esquina esperar.


Alguém lhe chamou. Era o dono do bar. Ela sacudiu os ombros. A perua parou, desceram alguns passageiros. Ela entrou sem sorrir, abraçou a mala, fechou os olhos e disse adeus.


- VI -


A patroa era muito bonita e se enfeitava muito. O marido lhe dava muitos presentes e viajava sempre. Elas se falavam pouco, apenas o essencial sobre o serviço da casa. Filhos não havia. Apenas gatos, brancos, peludos e preguiçosos.


Deu-lhe um quarto bem arejado e amplo. Não parecia quartinho de empregada. Os armários eram enormes. Seus poucos pertences couberam numa única gaveta da cômoda.


Usava um uniforme elegante. Não precisava das roupas. Raramente saía, apenas para a visita mensal. Não levava sacolas e sim um pouco de dinheiro separado em envelopes: para ele e para os outros. O restante guardava e sonhava.


- VII -


Na última visita recebeu a notícia: ele não estava mais lá. Fugiu. Ela voltou ao bar. O dono do bar lhe contou. Procurado. Caçado. Marcado. Ela procurou o homem moreno e forte e armado. Nada a fazer, ele disse. Esperar. E ela esperou.


- VIII -


Assassinaram o marido da patroa quando ele voltava do trabalho. Foi emboscada. Ela soube então que o patrão era um juiz e muitos não gostavam dele.


Foi vingança? E ele?  Estaria envolvido?


Esperar e rezar. E ela rezou.


- IX -


Entrou na ponta dos pés, espiou a panela vazia. Não havia pão nem molho, nem queimou a língua nem bebeu água da torneira.


Alguém gritou. Engoliu em seco e correu para o quintal.


Alguém empurrou a porta que estava destrancada.


Ela foi ao quintal. Vestia a velha blusa amarela, e parecia chorar. Ele se aproximou e cercou-a de abraços e beijos. Ela olhou para ele e abaixou os olhos chorosos.


- X -


O homem moreno e forte e armado entrou na casa pela porta da frente que estava aberta. Abriu a geladeira e pegou um refrigerante, sentou-se num banco e ligou a TV.


Eles entraram abraçados.


Um moleque chutou com força uma bola que bateu na vidraça, o homem moreno e forte puxou a arma e xingou.


Ela sacudiu os ombros e abriu os braços. O homem atirou duas vezes. Ele caiu e ela se jogou ao chão.


O homem moreno e forte e armado fez uma ligação do celular. Uns moleques apareceram, espiaram e correram.


O táxi parou defronte à casa do subúrbio e ela embarcou chorando. O homem moreno e forte e desarmado entrou no bar e pediu um refrigerante. A TV exibia propaganda eleitoral.






maio 14, 2024

círculo social

 


tem gente que conta

e tem quem desconta

tem gente que canta

ou que desencanta

tem gente que fala

e tem quem se cala

quem guarda segredo

quem morre de medo

quem chora baixinho

quem come pouquinho

e tem quem perdôa

quem vinga ou magôa

quem morre de tédio

há quem sofre assédio

quem se diz mal amado

e quem vive em pecado

quem tem conta bancária

ou preguiça diária

tem quem sofre calado

tem quem xinga um bocado


e, como tem mentiroso!


maio 10, 2024

Os pés - III

 Voltando ao assunto dos pés alheios.

 

Antes, gostaria de dizer que passei a gostar dos meus pés. Tenho uma podóloga. Raramente uso esmaltes coloridos nas unhas. Mas, tenho mania de comprar sapatos. Preciso me policiar, muitos começam a me machucar. Comprar pela Internet, nunca mais. Ou diferem dos modelos das fotos, ou a numeração não coincide com meu número.

 

Minha mãe tem joanetes e passou a sofrer uma deformidade com os dedos sobrepostos. Fui ao ortopedista, preocupada em sofrer o mesmo que ela. O médico me tranquilizou, sem chance de acontecer...

 





Eu achava lindos os pés de minha irmã, dedos longos, o segundo maior que o dedão (pé grego). Mais tarde soube tratar-se de uma deformidade, também.

 

Reparo nos pés de bebês, de idosos, de homens, mulheres e até cães e gatos.

Muitas vezes julgo que o pé não combina com a pessoa. Observo, principalmente mulheres, se equilibrando em saltos muito altos. (usei saltos e as pedras portuguesas das calçadas foram um transtorno. O salto sempre agarrava num intervalo entre as pedras, ou quebrava. Um 'mico' sair pulando num pé só até encontrar um vendedor de chinelo ou rasteirinha).

 

Nunca conversei sobre esse assunto com meu analista. Creio que só recentemente me dei conta desse TOC.

 

Conto agora pra você, leitor, e mando cópia pro analista.


Os pés - II






Uma tarde, véspera de Natal, meus pais nos levaram, a mim e os irmãos para escolher os presentes. Eu me deslumbrei com uma 'sandália de dedo' - ainda uma novidade na época (não existiam havaianas, a empresa produzia alpargatas, com sola de corda).
Fiquei empolgada ao ganhá-la mas, os meus pés não mereciam aquele mimo. Os pés pareciam mais largos e gordos calçados com a sandália. Evitava usá-la.
Anos mais tarde, soube que papai vendeu seu barbeador elétrico para ter dinheiro para nossos presentes. Fiquei triste e arrependida por ter pedido, como presente, aquela sandália.
Eu não gosto de tênis, na infância usei um chamado Conga, ou Conguinha. Era azul. Aprendi a bordar e aplicar miçangas para decorá-lo, mais feminino. O problema era o cheiro de chulé ...

Os pés - I





Tenho curiosidade sobre pés, ou melhor, pés atraem minha atenção. Gosto de reparar os pés das pessoas

Quando me perguntei o porquê desse interesse, lembrei-me que quando era criança, aos sete ou oito anos de idade, eu não gostava dos meus próprios pés, achava-os grandes e com dedos curtos. Achava-os muito feios. O que me aborrecia era o tamanho. Passei a comprar sapatos com numeração menor, principalmente os sapatos do uniforme do colégio - eram os Tanques Colegiais. Esse hábito deixou sequelas, principalmente uma fenda na sola, como um grande calo dividido ao meio. Eu não sentia dores, embora o trajeto até a escola fosse a pé. Uma longa caminhada.


Um modelo de sapato que me atraia era o tipo boneca, fechado com 'pulseirinha'. o modelo de Dorothy do Mágico de Oz.


maio 09, 2024

Da série Utilitários: o chinelo

 



 

CHINELOS

 

Muitas pessoas usam o chinelo diariamente dentro da sua casa, pra curtir uma praia, praticar esporte, sair com os amigos ou até mesmo trabalhar. Mas elas muitas vezes não sabem de onde ele veio ou por quem foi criado.

O primeiro protótipo de chinelo, registrado historicamente, teria sido fabricado pelos Sunitas por volta de 4300 anos atrás, para abater peixes na beira dos rios.

O par mais antigo está em exposição no Museu Britânico e data de 1500 A.C.

Depois de 7500 anos, diversas culturas teriam criado sua versão com base no modelo criado pelo homem das cavernas. Nesses tempos os egípcios usavam suas pegadas em areia molhada para moldar solas de papiro, fibra ou palha. Depois entrelaçando na medida da forma impressa e prendendo nos pés com tiras de couro cru. Os egípcios utilizavam a chineleta para proteger os pés em terrenos escaldantes, bronzear a parte superior dos pés e as mulheres para a aplicação de joias e adereços.

Outros povos produziram suas versões, mas todas inferiores a versão egípcia:

Os japoneses criarão a Zori, uma espécie de chinelo com tiras sobrepostas.

Os persas tinham a madeira como base para a sola.

E os espanhóis fabricaram chinelos com cordas.

Na idade média homens e mulheres usavam chinelos de couro abertos que tinham forma semelhante a uma sapatilha.

 

Os famosos chinelos de dedo

 

Poucos conhecem a história deles, poucos sabem que essa invenção está a milhares e milhares de anos conosco e são utilizadas constantemente até os dias atuais.

 

Os chinelos rapidamente se tornaram o calçado informal dos jovens. As garotas passaram a decorar seus chinelos com acabamentos metálicos, adornos, correntes, contas e bijuterias. Versões mais sofisticadas utilizando couro ou materiais sintéticos passaram a substituir o tênis ou o sapato.

 

Tem quem diga que as havaianas é uma peça obrigatória nos guarda-roupas de todo brasileiro. No entanto, nem todos os brasileiros sabem a origem da marca e a sua história.

 

No ano de 1962, a marca Alpargatas S.A, instalou no Brasil a marca Havaianas, que fabricavam chinelos de borracha, e produziu o primeiro par de Havaianas, a Tradi.

A inspiração foi a sandália de dedo japonesa chamada Zori (confeccionada de palha de arroz).

Esses chinelos foram trazidos após a Segunda Guerra Mundial pelos soldados.

 

Feita de borracha e com o formato de grão de arroz como textura da palmilha, nascia um clássico. As Havaianas são tão marcantes que seu desenho foi patenteado como um calçado inédito, descrito como "um novo tipo de sola com alça".

 

Havaianas - As Legítimas

O nome da marca “Havaianas”, teve sua origem inspirada no Havaí, isso porque os chinelos de dedo eram associados ao vestuário característicos de praia, verão calor entre outras coisas.

 

Desde seu surgimento, as Havaianas Tradi foram fabricadas em apenas uma cor: branca e azul. Mas, em 1969, por um erro de maquinário, "surgiram" as primeiras Tradi com tiras verdes. O Brasil amou e, logo, vieram outras cores como a amarela e a preta.

 

Em 1994, graças ao "jeitinho brasileiro", nasceu um dos modelos mais icônicos de Havaianas: a Top. Com muita criatividade, surfistas começaram a virar a sola colorida do chinelo para cima criando modelos monocromáticos. Genial!

 

De olho nessa "tendência", foi lançada a Top, disponível em todas as cores do arco-íris e edições especiais.

 

Em seguida, mais uma inovação: a primeira Havaianas estampada com as flores de hibisco.

 

Em 1998, uma edição limitada foi lançada para celebrar o mundial de futebol daquele ano, realizado na França: as Havaianas Brasil Logo , com uma pequena bandeira do país aplicada à tira e filetes com as cores do Brasil na sola.

 

A estreia de Havaianas no universo da moda acontece em grande estilo, as passarelas em1999.

E continua lançando novos modelos como a Slim, as rasteirinhas e a Square.

 

Chinelada

Substantivo - pancada com chinelo ou chinela

Origem da palavra chinelada - etimologia: de chinelo, ou chinela

Sinônimos de chinelada: tamancada, bofetão, sapatada, pantufada

 

Um ‘pé de chinelo’:

A expressão "pé-de-chinelo não existe por acaso, durante anos, esteve associada a pessoas de menores recursos

 

A expressão deixar ou botar no chinelo

Significa ser melhor ou superior com bastante vantagem.

Exemplo: Esse show vai deixar no chinelo o último evento.

 

Fontes:

http://dafaborrachas.com.br/historia-do-chinelo

https://havaianas.com.br/historia-da-marca.html

https://moda.culturamix.com/noticias

https://www.rtp.pt/noticias/pais

https://pt.wikipedia.org/wiki/

 

 

PS. Foi tudo copiado, mas dei meu toque e deixei as fontes.

 

 

daguinaga

maio 08, 2024

aprisionada

 


 

Uma tela metálica aposta à janela, malhas finas. Intransponíveis.

A janela oposta estava fixa em seus batentes, impossível abri-la.

A porta de acesso ao aposento permanecia semiaberta, sempre.

A criatura tentava escapar pela janela. A luz de um amanhecer dourado era o que ela via, através da tela. Poderia escapar pela porta.

Tentou o dia inteiro atravessá-la. Exausta, adormeceu.

Findou o dia.

Amanheceu. Um estreito raio de sol penetrava pela fresta da porta entreaberta,

A criatura despertou, voltou à janela aguardando a luz dourada retornar.

Tentaria escapar novamente.

Uma brusca rajada de vento fechou a porta.



maio 07, 2024

série Utilitários II - O SABÃO




A palavra portuguesa "sabão" provém do latim sapo ("sabão"). O termo latino, por sua vez, tem origem no germânico *saipo-.[6] O latim sapo é cognato com a forma latina sebum, "sebo".

O sabão surgiu de forma gradual, ao longo da história da humanidade, e sua produção é uma das atividades mais antigas realizadas pelo ser humano. Os primeiros registros de um material semelhante ao sabão atual foram encontrados em uma placa de argila de aproximadamente 2800 a.C., na região da antiga Babilônia, que hoje corresponde à região do Iraque.

A produção do sabão e do sabonete segue praticamente a mesma regra básica: é uma reação entre um ácido graxo (gorduras e óleos de origem vegetal ou animal) com um material alcalino, isto é, de caráter básico. Normalmente, a base é o hidróxido de sódio (NaOH), que é conhecida como soda cáustica." https://brasilescola.uol.com.br

"os primeiros sabões eram misturas de gorduras de animais (sebo), como o material graxo, com as cinzas de madeiras, que possuem substâncias alcalinas. Se não houvesse cinzas, evaporaram-se as águas de rios que costumavam ser alcalinas, como as águas do rio Nilo, no Egito.

A produção do sabão foi se desenvolvendo cada vez mais e ele passou a ser considerado um artigo de luxo nos séculos XV e XVI. Ele era produzido principalmente na França e na Itália." https://brasilescola.uol.com.br/quimica/historia-sabao.htm

 

O sabão em pó

foi produzido pela primeira vez em 1946, como forma de facilitar a lavagem de roupas, que até então, era feita com sabão em barra. A princípio, não deu certo, devido às interações químicas entre o sabão e os íons da água dura.

 

Robert Spear Hudson passou a produzir um tipo de sabão em pó em 1837, socando o sabão com pilão. William Hesketh Lever e seu irmão James compraram uma pequena fábrica de sabão em Warrington (Inglaterra), em 1885, fundando o que ainda é hoje um dos maiores negócios de sabão do mundo, a Unilever. Estes produtores foram os primeiros a empregar campanhas publicitárias em larga escala. Wikipédia.

 


maio 06, 2024

série Utilitários I - O SABONETE

 



A História do Sabonete começou há 600 anos antes de Cristo quando foi criado o sabonete.

Foi criado pelos fenícios, que ferviam gordura animal, água e cinzas de madeira até obter uma pasta que servia para limpar o corpo.

O produto sólido, porém, só foi criado no século 7 quando os árabes inventaram o chamado processo de saponificação. O sabonete se tornou um produto do cotidiano a partir do século 19, quando começou a ser fabricado industrialmente, barateando seu custo.

Tornou-se tão popular que hoje em dia é impossível falar em higiene pessoal sem considerar o uso do sabonete.

Há indícios de que já na pré-história o ser humano fazia uso do sabão mesmo não sabendo da importância que um dia este produto teria para toda a humanidade.

 

O ano de 1878 foi um marco na história do desenvolvimento dos sabões modernos, quando foi inventado o sabão branco. Isto ocorreu acidentalmente, devido à inclusão de ar na solução de sabão antes da moldagem.

O nome “sabonete” teve origem na França, onde se iniciou a confecção de sabões nos quais se adicionavam cores e aromas. A palavra em francês é “SAVONETE”.

maio 05, 2024

LES SECRETS DU CHEF



Il est très difficile de plaire au palais d'une famille.

On déteste les raisins secs dans la farofa ; un autre ne mange pas de porc ; un autre ne mange pas de légumes, etc.

Pour les non-gourmands certaines recettes ont été adoptées, par exemple :

Pour ceux qui détestent le porc : un steak de cuisse de porc a une viande légère, et sa préparation « panée » se sert comme un blanc de poulet pané ;

Pour ceux qui détestent les légumes : des aubergines pelées, tranchées, bouillies et égouttées sont intercalées dans les couches de lasagne ; ou des nouilles préparées avec des légumes hachés et de la sauce soja, deviennent des yakisoba et il ne reste plus rien dans l'assiette !

Pour ceux qui détestent les plats réchauffés : les restes de riz mélangés à du poulet émincé se transforment en risotto ; les restes de haricots mélangés au mixeur avec de la farine de manioc se métamorphosent en « tutu à mineira ».

Le bouillon de haricots était-il liquide ? Épaissir avec de la farine de lin.

N'y avait-il pas de crème pour le stroganoff (surnom de la viande hachée) ? Mélanger la sauce blanche, à base de lait épaissi avec de la fécule de maïs et d'une pincée de muscade ;

Il n'y avait pas de sauce tomate ? Le Paprika fait effet !


Mes meilleures recettes :

I - Service militaire :

Un « éducateur alimentaire » efficace : le garçon qui grattait son assiette à la maison mange désormais de tout, sans se plaindre !


II - Quelques jours loin de chez soi :

De quoi permettre à la jeune fille de se convaincre que la nourriture de sa mère est la meilleure du monde !


segredos

 




SEGREDOS DE ‘CHEF’

É muito difícil agradar ao paladar de uma família.

Um odeia uva-passa na farofa; outro não come carne suína; outro não come legumes ou verduras etc.

Para os não-gourmetidos algumas receitas foram adotadas, por exemplo:

Aos que detestam carne de porco: um bife do pernil suíno tem a carne clara, e seu preparo ‘à milanesa’ é servido como um peito de frango empanado;

Aos que detestam legumes: berinjelas descascadas, fatiadas, aferventadas e escorridas são intercaladas nas camadas da lasanha; ou um macarrão preparado com legumes picados e molho shoyu, vira um yakisoba e nada resta no prato!

Para os que detestam comida requentada: a sobra do arroz misturada a frango desfiado se transforma em risoto; a sobra de feijão batida no liquidificador com farinha de mandioca metamorfoseia-se em ‘tutu à mineira’.

O caldo do feijão ficou aguado? Engrossa com farinha de linhaça.

Faltou creme de leite para o estrogonofe (apelido para o picadinho de carne)? Mistura molho branco, feito com leite engrossado com maisena e uma pitada de noz moscada;

Faltou molho de tomate? Colorau produz efeito!

Minhas melhores receitas:

I - O serviço militar:

Eficiente ‘educador alimentar’ – o rapaz que ciscava o prato em casa agora come de tudo, sem reclamação!

II - Uns dias fora de casa:

Suficientes para a moça se convencer que a comida da mamãe é a melhor do mundo!


maio 03, 2024

FROM THE UTILITIES SERIES - UNDERPANTS I

 



UNDERPANTS


The word derives from "cu", originating from the Vulgar Latin culus which means anus and from "eca" from the Greek eco which means domicile.


- Eco (a) is an element that came from Greek and means home, habitat, as in ecology. Thus, underwear is the domicile, the home of the male genitalia.


From the same place, we have swaddle (the cloth that wraps the child from the waist down), with the ending - eiro, which means a place to store something (as in sugar bowl and inkwell).


Also from there came (a) retreat, from re- (backwards) + cu + -ar; (b) corner, from a- (direction) + cu + -ar; (c) breech, from Italian culatta, the back part of the firearm.


Historically, the first underwear appeared 7 thousand years ago, when prehistoric man created a leather thong similar to a diaper. Remains of these primitive pieces have been discovered by archaeologists, giving an idea of ​​how our ancestors began to cover their “parts”.


The earliest example of men's underwear dates back to cavemen.


They are described by scholars as a long piece of linen shaped like a triangle with strips at the ends. They were tied around the hips and looped between the legs; then, with the straps, they were tied again at the hips.


Underpants made of leather may not have been very comfortable, but they fulfilled the mission that their descendants still have today: protecting them from accidents.


The notion of hiding the region for prudish reasons only appeared much later, in the Middle Ages, when pants and other equipment already fulfilled the function of protection.


In the 12th century, with the development of platinum armor, linen bands that were used as protection against the harsh metal began to be worn by knights. Since then, these fabrics have been considered the real antecedents of men's underwear. Later, underpants, often tied below the knees with ribbons or pins, shortened and were sewn together.


In the 13th century, the beginnings of long johns emerged: linen pants that covered the entire leg and were widely used by both peasants and royalty.


After the French Revolution, the English aristocracy became the model of men's fashion. What they wore were comfortable and casual clothes. With the exception of formal occasions, shorts gave way to tighter pants, accompanied by boots.


During the Renaissance, these pants stopped covering the private parts to make it easier to urinate: they became similar to huge stockings that covered everything except the penis. In the future, they were replaced by versions that covered the private parts, but contained buttons to facilitate their release.


After the Industrial Revolution, the invention of the bicycle also made underwear take on a new shape: it was necessary to better protect the penis while cycling on cobblestone streets.


The popularization of cotton fabrics helped during this period, giving rise to underwear similar to today's jockstraps, which better supported the genitals.


In the 20th century, two revolutions emerged: slip briefs and boxer shorts. The latter were derived from boxer shorts and entered the market in the 1920s. Slip briefs, created in 1935, with a “Y” opening at the front, were so revolutionary in men's fashion


In Brazil and Mozambique, underwear is the most used name to refer to men's underwear.


In Portugal, however, this word is used, normally in the plural or diminutive, to also refer to the corresponding model for women which, in Brazil and Mozambique, is called panties (also in the plural).


In the men's version, its seam is specially shaped to provide support to the sexual organs, and may also have a fly. In some regions of Brazil, it is also called sunga and in Portugal boxer.


Men don't like anything that tightens their faithful companion too much, which is why more elastic materials that fit the body better are among their preferences.


The current models are varied: slip (the most traditional and best-selling in Brazil, which is scooped on the sides), boxer (normally does not mark the body and is preferred by tall men, as it “shortens” the legs), boxer shorts ( which makes everything much looser), swim trunks (a halfway point between slips and boxers) and jockstraps (only cover the penis, leaving the buttocks exposed).


The principle of men's underwear is comfort and simplicity, which is why shorts called "boxer shorts" became very common in the 1980s.



PS. Copiei tudo e dei meu jeito...

Fontes: https://pt.wikipedia.org/

https://www.megacurioso.com.br

https://www1.folha.uol.com.br/

https://www.cardosoelima.shop/pagina/historia-da-jockstraps.html


 


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maio 02, 2024

um conto


 


A ÚLTIMA VIAGEM DE UM ELEVADOR


[O monólogo do elevador indiscreto]


PRÓLOGO


A ROTINA


Um grande edifício. Situam-se nesse edifício escritórios de advogados, seguradoras, clinicas médicas, psicanalistas e uma academia de ginástica Os clientes são usuários do elevador. O elevador será substituído por um modelo moderno, automatizado e computadorizado. É Segunda-feira. Mês de novembro. É a sua última viagem. Há uma fila de pessoas à espera do elevador As pessoas entram lentamente; as portas se fecham

O painel informa que o elevador vai subir

...

O elevador volta ao térreo, está vazio, portas abertas e apenas um foco de luz. Vê-se apenas a silhueta do cabineiro. O painel indica Manutenção


II


O MONÓLOGO


Tentem adivinhar o que se passa na mente das pessoas que entram num elevador lotado. Perfumes e cheiros se misturam. Corpos se roçam. Respirações apressadas. Olhares perdidos. Caras felizes. Caras de preocupação. Caras sérias. Caras risonhas. Faces gordas, faces magras, calvos e cabeludos. Jovens, velhos e crianças. Mulheres. Office-boys. Técnicos em manutenção. Uma ou outra vez alguma carga. Sempre gente, de todos os lugares em suas rotinas, em suas buscas, em seus encontros. A música é única, inconfundível. Mozart, Bach, Haydn ou Beethoven será que algum dia eles pensaram em compor música para ser ouvida num elevador? E os músicos contemporâneos com seus sons minimalistas. Philip Glass teria escutado algum dia suas composições tocadas em um elevador? Quem sabe? O Office-boy negro, magro que entrava assobiando a mesma canção, retalhos de várias melodias, teria feito uma colagem de todos os sons ouvidos em suas subidas e descidas diárias, intermináveis?

O cheiro do elevador depois da faxina! Mistura de detergente, essências e suor. Um cheiro indistinguível! E o espelho enorme no fundo duplicando cabeças, caras, olhos, penteados e calvícies! E o ventilador ruidoso, produzindo um incômodo vendaval e despenteando as madames em seu redemoinho localizado, como um foco dirigido apenas para aquele pequeno espaço do canto?

As viagens incontáveis com intervalos para as manutenções. O painel luminoso, qual uma placa de futebol alternando seu discurso: Pares, Impares. Todos os andares. Parado. Em manutenção. Subindo. Descendo. O gabinete revestido de fórmica fosca. Piso emborrachado. Grafiteiros anônimos deixaram mensagens, gravando em traços ligeiros suas marcas e rabiscos. Indeléveis.

...

As paradas nos dois primeiros andares eram muito raras. Estudantes desciam aos bandos, ruidosos no horário do almoço, ignoravam minha existência. Uma vez embarcaram uma enorme árvore de Natal após o encerramento do expediente. As escadas internas eram preferidas. O quarto andar: quando a porta enguiçava ou o elevador parava entre os dois andares. - Só falta apagar a luz. Dizia um. - Tenho pressa, cabineiro. Dizia outro. - Peça ajuda. Diziam todos.

Aos trancos, ele descia e tornava a subir; não parava no quarto andar. Parecia um feitiço. Poucas pessoas paravam nesse andar, principalmente aquelas que conheciam suas manhas.Então subiam ao quinto andar e desciam a escada. Apenas um homem insistia em tomar o elevador às quatro da tarde; a hora do enguiço. Eu pensava:

- só implica com tal passageiro! Enguiçava outras vezes e o homem não estava presente. Ele usava muletas, todavia que chamava a atenção eram seus olhos esbugalhados; como os olhos de um sapo. Era um advogado de poucos clientes; a secretária era uma loira gorda de cabelos ralos e cílios postiços, batom muito vermelho acentundo a boca enorme e dentes desalinhados; e perfume insuportável. Sorte nossa que ela tomava o elevador muito cedo, com poucos passageiros a bordo e passava o dia no escritório; de vez em quando recebia a visita do filho, um rapaz muito magro de barba rala, cabelos curtos e uma argola na orelha.

O quinto andar era muito frequentado. Lá estavam os consultórios dos cirurgiões plásticos, esteticistas e dermatologistas. A maioria dos clientes são mulheres cinquentonas. Apareciam alguns homens também, chegavam barrigudos, narigudos, caras enrugadas, murchas e abatidas; semanas depois retornavam esbeltos, rejuvenescidos, felizes e sorridentes; indicavam outros pacientes e engordavam as contas bancárias e as barrigas dos médicos.

O terceiro andar era uma festa permanente, com seus cursos preparatórios para vestibulares, concursos públicos e forças armadas. O elevador parecia exclusivo, mas a rapaziada preferia as escadas, muitas vezes congestionando a passagem do pessoal do segundo andar; uns querendo subir e outros querendo descer. Um aglomerado humano feliz e despreocupado. Aproveitavam para fumar e no final do dia recolhiam-se quilos de guimbas e tocos apagados. Não havia drogas.

O sexto andar abrigava um cartório de títulos e documentos, os funcionários eram circunspectos e calados; cumprimentavam por educação, sem sorrisos. A clientela era bastante diversificada. Além do cartório, o sexto andar abrigava uma firma de contabilidade, seus clientes, na maioria, pequenos empresários portando eles próprios a papelada; alguns progrediram nos negócios e passaram a mandar outros em seu lugar, deixaram de usar o elevador, desapareceram. Dentre os clientes destas firmas estavam duas sócias, jovens e bonitas exportadoras de biquínis; faziam questão de ir juntas ao escritório. Ao longo do tempo mudaram o seu visual, à medida que o negócio prosperava; cada dia ficavam mais bonitas e vistosas; passaram a se vestir com mais apuro; uma fez a correção dos dentes. Um dia contaram ao cabineiro a viagem feita ao exterior; lembraram-se do velho cabineiro trazendo-lhe um gorro de pele; jamais deixavam de sorrir. O sétimo e oitavo andares abrigavam uma academia de ginástica que já começou famosa porque um dos sócios era artista de televisão; tinha também uma cantina cuja cozinheira sempre preparava um lanche especial para o cabineiro. Era uma mulher negra, muito gorda e falante; sabia preparar cardápios de baixa caloria. Por ironia, sua gordura era conseqüência de problemas com a tireoide, disfunção que médico algum conseguia controlar. De nome Neuza, dizia para todos que só simpatia e reza conseguia manter o peso estabilizado; sofria também de varizes, escondendo as pernas em meias escuras, mesmo no verão, porém exibia o inchaço dos enormes pés. Mãe solteira; a filha, uma negra muito alta e fotogênica passou num teste para modelo e morava na Europa; devia fazer muito sucesso e ganhar muito dinheiro, pois comprou uma casa para a mãe num bairro nobre da cidade; mandava fotos, mas nunca voltou à cidade. Neuza uma vez levou para o trabalho uma revista com a foto da filha numa propaganda de perfume. E dizia que jamais poderia usar aquele perfume por ser alérgica e custar muito caro. Um dia, uma cliente da academia jurou que usava aquele perfume, tal era o rastro perfumado pelos corredores. Comentava-se, dias depois, que o perfume era importado e vendido apenas nas grandes capitais. Era um cheiro muito bom mesmo!

No nono andar estavam os escritórios do maior agiota da cidade; com um bar americano, uma sauna e um salão de bilhar; sujeito discretíssimo, usava o elevador de serviço; detestava seu helicóptero por ter medo de voar, mas dizia-se dele que dirigia loucamente uma Mercedes nos finais de semana, quando se refugiava em Itaipava em sua mansão. O décimo andar era um mistério, as salas estavam vazias, ou muito pouco ocupadas. Dizia-se que o proprietário cometera suicídio e a família não quis saber mais do imóvel. Dizia-se também que as salas estavam sob custódia num processo litigioso sem previsão de um final feliz. Dizia-se também que era mal assombrado e quem tentou lá se instalar se deu mal ou faliu. A verdade não se sabe. Muitas portas estão lacradas.


III


A ÚLTIMA VIAGEM


PRÓLOGO


As pessoas entram lenta e solenemente. As portas se fecham. O painel luminoso se apaga. O ventilador está desligado. Não há música. O espelho está embaçado. A faxineira faltou ao serviço. O cheiro lembra eucalipto e está muito forte. Vomitaram no elevador! Tem um botão quebrado! O do quarto andar.


IV


O MONÓLOGO


São passageiros desta última viagem: para o quarto andar, o filho da secretária do advogado com cara de sapo; ele está muito pálido e trêmulo, parece drogado; sua mãe, a secretária, ainda não subiu. O advogado chegou muito cedo, encontrando o elevador ainda sujo. Não houve enguiço. Dois passageiros para o segundo andar vão subir, antes pedindo parar no oitavo; são dois rapazes com uniforme impecável; um deles está sem crachá. Duas passageiras para o quinto, uma delas trazendo uma criança. Mais dois passageiros do terceiro; são novos candidatos, parece, pois pediram informações na recepção. Dois passageiros para o sexto. A cozinheira para o oitavo e uma passageira para o nono. Lotação esgotada. Capacidade para 10 pessoas, mais a criança. Neuza cede lugar para a passageira do quinto andar. Surge o Office-boy correndo: - Espera aí companheiro. Sou magrinho! O passageiro do quarto andar desiste e Neuza retorna ao seu lugar, espremendo o boy contra o cabineiro. Todos se olham pela última vez. O que vai na cabeça do passageiro do quarto andar? Está drogado, com certeza! Seus olhos estão esbugalhados como os do advogado cara de sapo. Como passaram a noite? Ela, a secretária, talvez untando-se com pomadas e cremes e devorando caixas de chocolate frente à TV. O galã da novela é sócio na academia de ginástica. O filho faz um teste para figurante; seria arranjo do advogado. Advogados arranjam de tudo desde que sejam bem pagos. Que preço a secretária deverá pagar? Ou será que seu filho é quem pagará? Ou já terá pagado? O advogado gosta de rapazes. Neuza ouviu este comentário na cantina da mulher do tal perfume que sua filha fez propaganda na revista italiana. Os passageiros do segundo andar, rapazes, estão subindo para o oitavo; estarão indo para a cantina de Neuza? Ou talvez para a academia de ginástica? O rapaz sem crachá é novo por aqui; contrato recente. ferido ao se barbear, aparentava nervosismo; estaria ansioso? Como seria seu primeiro dia em novo emprego ou primeiro emprego? Ele parece ser tão jovem! As passageiras do quinto andar parecem mãe e filha; ou seriam duas irmãs? Seriam parentas?. A menina tem um curativo nas orelhas, mais se parece com os cachorrinhos de orelhas aparadas; teria feito plástica? Conserto de orelhas tortas ou de abano! Cabelos tão curtos, igual a um menino! A mulher mais velha tem o rosto esticado, as mãos são como as de uma bruxa; encarquilhadas, longas unhas pintadas de dourado. Que mau gosto! Há outra passageira para o terceiro andar, mulher nova e rosto delicado. Teria sido esculpido pelo médico? As mãos são lisas e pequenas, unhas curtas e sem cor; tem um anel enorme de pedra verde e tatuagem de estrela no pulso. A mulher mais velha olha fixamente para o painel e seu rosto não tem expressão alguma. Um celular toca no bolso ou bolsa de alguém, chamada não atendida. O Office-boy está impaciente, espremido pelo corpo da cozinheira, parece muito satisfeita em lhe proporcionar tal carinho; a filha está tão distante! Os rapazes do terceiro andar olham um para o outro, segurando o riso; Neuza e o Office-boy são uma comédia para eles; não descem no terceiro andar; mudaram os planos? Os passageiros do sexto fitam o infinito nas paredes de fórmica ou decifram os grafites? Irão ao cartório ou ao escritório de contabilidade? Carregam envelopes pardos; documentos para registro ou para o imposto de renda? Um tem bigodes, é meio calvo. Por que o destino tirou os cabelos da cabeça e os colocou em sua boca? O outro tem cabelos loiros, não tem barba; um rosto de moça e acne; a espinha enorme e vermelha, qual uma estrela colada na asa do seu nariz parece estourar com um espirro. O cheiro de vômito ainda dá pra sentir, misturado ao eucalipto e ao perfume das mulheres. Neuza cheira a suor e gordura. Quem será o passageiro para o décimo andar? Seria um oficial de justiça? Esqueceram de avisá-lo na recepção de que as portas estão lacradas? Ou ele já está sabedor? Ele teria as chaves, da porta e dos mistérios?

...

Parada no quarto andar. Alguém chamou. O botão não responde ao comando. O interfone não está funcionando. Alguém esmurra a porta pelo lado de fora. A menina enfaixada quer chorar. O Office-boy xinga. Os rapazes do terceiro andar começam a rir e Neuza faz uma careta. O celular toca novamente. A mulher de mãos enrugadas e unhas douradas pega o telefone na bolsa e fala em voz metálica que está presa num elevador enguiçado. Desliga o telefone. O elevador volta a subir aos trancos. Continuam socando a porta do quarto andar. Sobe direto ao décimo.

...

Os homens do sexto andar se olham; estariam em pânico? Neuza agarra sua medalha pendurada no pescoço e se benze três vezes; sem querer, esbarra com força no queixo do Office-boy que geme, ou xinga baixinho. A menina chora mais forte; a mãe procura lenços de papel na bolsa e entrega à menina.

Parada no décimo andar. As portas não abrem.

Desce. Parada no nono andar, o homem desce com o Office-boy. Voltamos a descer com parada no oitavo andar; Neuza sai com os rapazes com cara de riso. A mulher pega a menina no colo; parece que a pele do rosto vai se rachar. A mulher mais jovem faz um carinho na menina.

Paramos no sexto andar, os passageiros descem, entra o Office-boy ofegante.

Continuamos a descer e paramos no quinto andar. As mulheres e a menina descem. A menina deve ter peidado. Ou foi a mulher mais velha ou a mais nova? Ou ambas?

A viagem prossegue e finalmente paramos no quarto andar.

Os rapazes do terceiro descem e entra o filho da secretária do advogado da cara de sapo.

As portas não se fecham.

Permanecemos parados.

Surge o advogado com uma arma e atira no filho da secretária.

O Office-boy desmaia.

O advogado aciona o botão e descemos ao térreo.

As portas se recusam a abrir.

Forte cheiro de pólvora e sangue.

O elevador torna a subir e vai direto ao décimo andar.

As portas se abrem.

O advogado sai arrastando as muletas.

O Office-boy acorda, torna a desmaiar, acorda e contempla, em choque, o cadáver do filho da secretária do advogado com cara de sapo.

...

O elevador desce sem paradas ao térreo.

A secretária do advogado e mãe do morto depara com o corpo do filho. Grita.

Ouvem-se gritos vindos da rua.

Um corpo está caído na calçada junto a muletas quebradas.

Surge a polícia.

O Office-boy ainda em choque senta-se encostado ao balcão.


No painel luminoso: ÚLTIMA VIAGEM


haikai - o mar

 

o despertar

the sea falls asleep
high waves disturb
awakens on the beach

haikai

 

agreste perfume

circulando pelo ar

lavandas em flor

parfum sauvage
circuler dans l'air
lavande en fleur

maio 01, 2024

primeiro de maio

  


Eu sou um pacifista, trabalho pela paz e para um mundo melhor.

Trabalho contra os caretas do mundo, contra o torpor, a imprecação, contra a arapuca que nos foi armada e durante séculos vivemos conformados, presos nela comendo o alpiste que nos dão. E o pior é que os que prepararam a arapuca também caíram nela, comem do mesmo alpiste e não sabem disso.

Trabalho para sair da arapuca com todos os que estão querendo ser pássaros livres outra vez. Os que estão cegos ficarão soterrados dentro dela quando ela desabar.

Sou um pacifista, a mando de forças exteriores.

Pensando que estão por cima, os imbecis vivem dentro do mesmo esquema: a neurose, a preocupação criminosa e doentia de manter-nos a todos dentro da armadilha. Mas é preciso sair dela de qualquer maneira, é a única salvação ou seremos eternos pássaros tristes, presos numa arapuca com alpiste racionado. Eu quero ver o mundo do cume alto de uma montanha!!!

Raul Seixas


Privatizado
Privatizaram sua vida, seu trabalho, sua hora de amar e seu direito de pensar.
É da empresa privada o seu passo em frente, seu pão e seu salário.
E agora não contente querem privatizar o conhecimento, a sabedoria, o pensamento, que só à humanidade pertence.

Bertolt Brecht

 

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