Eu morava num sítio localizado na zona urbana, ou melhor, a cidade cresceu em torno do sítio. O terreno possui alguns cursos d água, pedreiras e uma matinha.
Próximo à porteira há um entroncamento.
O lugar é muito frequentado por crentes que lá vão deixar oferendas aos Orixás. Já fizeram até cerimônias religiosas e deixaram por lá os ‘presentes’. São incontáveis as velas de várias cores que andei recolhendo (costumam ocorrer apagões); recolhi alguidares de barro que transformei em lindas fruteiras artesanais; já recolhi também rosas.
Respeito os cultos, mas não posso conviver com os resíduos que sobram. Uma noite tive que interromper a reza porque temia que iriam incendiar a porteira de madeira tal a quantidade de velas...
Eu não entendo porque os presentes são tão ordinários. Penso que os ‘santos’ merecem coisa melhor: tipo champanhe importada, cachaça de melhor qualidade, licores finos etc.
Uma vez um carro luxuoso parou na estrada e umas moças bem vestidas desceram para colocar balas num degrau de pedra por onde escorria um filete d’água.
Já foi preciso chamar os bombeiros para apagar incêndios na mata causados por velas acendidas pelos crentes. O santos deviam estar dormindo!
No sítio trabalhava um rapaz bastante supersticioso que se benzia a me ver recolher flores, velas, fósforos, taças e outras bugigangas.
Um dia eu passei por uma das picadas que cortam a propriedade e vi uma gamela de madeira, enorme, repleta de quiabos. Como o local era de difícil acesso, pedi ao rapaz para buscá-la para mim.
Ele um tanto contrariado foi. Demorou algum tempo e voltou com as mãos vazias dizendo que alguém já havia recolhido. Não acreditei na desculpa porque os moradores da redondeza são também supersticiosos e nunca recolhiam as oferendas.
Nem os garis da prefeitura que de vez em quando apareciam para limpar o mato da estrada tocavam nos objetos deixando no mesmíssimo lugar.
Decidi averiguar o caso e constatei que a gamela ainda estava no chão, apenas os quiabos foram devorados provavelmente por bichos que vivem por lá, tais como galinhas d’água, tatus e outros pequenos animais
Eu me meti por baixo da cerca de arame farpado e fui pegar a gamela.
Ela estava com uma rachadura de ponta a ponta, mas daria um lindo enfeite depois de limpa e encerada.
Axé!
em 09/04/2010
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