Ter filhos é um prazer; ninguém é obrigado a tê-los; se os temos é nosso dever cuidá-los, educá-los e, acima de tudo, amá-los como são. Irritantes, às vezes, exigentes, como bebês, indecifráveis, quando adolescentes e, imprevisíveis, quando adultos.
Cuidar de dois irmãos, com a diferença de idade de apenas onze meses, são como gêmeos ... A menina sempre foi mais esperta (natureza sábia), o menino mais dependente de atenção. Pelo menos no meu caso, os percebo assim. O pai das crianças é um adolescente, até hoje ... é o provedor financeiro (e olhe lá). Qualquer dia terá uma crônica ...
Interessante observar as preferências individuais tais como, comida, vestuário, diversão, estudos e amigos (entre outras). São apenas dois filhos para atender. Imagino o que deve passar a mães de mais filhos: minha avó com dez, minha mãe com seis e minhas bisas e tatas com mais de dez ... aff.
Até completarem cinco anos de idade eles se comportavam da mesma forma, sem muita diferença entre eles. Gostavam dos mesmo brinquedos e brincadeiras, frequentavam a mesma escolinha, vestiam-se sempre de t-shirts e shorts e usavam pijamas para dormir. A menina, à vezes preferia usar vestidinhos dependendo da ocasião.
A partir dos cinco anos, começaram a apresentar traços particulares, creio que estavam definindo sua identidade, estavam mais conscientes de si, o mundo real estava fora, eles faziam parte dele.
Passei a perceber o quanto se tornavam diferentes um do outro, em preferências e escolhas.
O cardápio era o item mais interessante a se observar.
A menina não gostava de leite (mais tarde foi constatada intolerância à lactose); o menino não gostava de carne vermelha e adorava brócolis. Ambos detestavam camarão, mas apreciavam o peixe; ela sardinhas fritas e ele salmão grelhado. O menino não apreciava o feijão preto, mas o vermelho. Ela preferia lentilhas ao feijão, qualquer que fosse.
Eu poderia prosseguir neste tema, mas seria enfadonho para o leitor. Vou concluir com a história do quiabo.
Fomos almoçar na casa de minha mãe quando seria servido frango com quiabo. Seria a primeira vez que eles comeriam tal delícia. A travessa fumegante foi posta à mesa, acompanhada por um angu de fubá cremoso, arroz e feijão carioca com rodelas de paio.
Servidos os pratos, observei que os dois filhos trocavam olhares, ora para o prato e ora para um e outro. Recusavam-se a começar a comer.
Minha mãe contou a história sobre a origem da receita, inventou outras, todavia as crianças não tocavam na comida.
A menina rompeu o silêncio dizendo ter baba na comida (a baba do quiabo...). O garoto, teve uma ânsia de vômito. Saimos, eu e eles da sala de jantar.
Perguntei o motivo de tal comportamento, uma indelicadeza para com a vovó.
O menino, então, contou que uma vez foi obrigado a encarar um prato de quiabo com baba e tudo. A menina complementou, disse que foram buscar doces de Cosme e Damião. Em uma das casas, antes de ganhar o pacotinho de balas, as crianças deveriam comer o quiabo primeiro. O Caruru de quiabo ...
Creio que foi uma experiência traumática, pois nunca mais se interessaram em buscar doces de Cosme e Damião.
As crianças cresceram, eu adoro quiabo e aprendi a prepará-lo sem a baba.
Hoje a menina come o quiabo levemente cozido no vapor, temperado com sal e azeite; o menino aprecia o frango com quiabo (preparo com sobrecoxas desossadas).
Tenho na horta uns pés de quiabo. Suas flores são lindas .
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