1ª.
PARTE
Achei melhor escrever
esta carta e publicar no espaço ainda democrático disponível porque o jornal só
publica se eu pagar. Eu tentei enviar para a secção Carta dos Leitores e não
foi publicada porque eu acho que o dono do jornal é seu eleitor.
Pois eu queria reclamar
que mandei quatrocentos e-mails para o senhor no Congresso e todos voltaram sem
terem sido lidos, mas quando novas eleições se avizinhavam o senhor entupiu a
minha caixa postal com e-mails e eu me vinguei devolvendo sem ler, e ainda, a
caixa de correio na portaria do meu prédio ficou cheia de sua propaganda.
Eu ainda não vi seu nome
na lista dos políticos com processos na Justiça Eleitoral, embora pairem
suspeitas no ar, mas o senhor está na lista negra dos seus ex eleitores por
várias razões: não existe sequer um projeto de lei proposto pelo senhor que
seja de interesse social; o senhor não é um congressista muito presente em
plenário; o senhor é figura apagada numa das comissões que também tem pouca
relevância. Além disso, empregou a seu serviço no gabinete um monte de gente
tudo parente de outros políticos num troca-troca sem-vergonha para fugir à
proibição de nepotismo.
O senhor que era bem
magrinho quando iniciou sua carreira política e hoje, depois de um banho de
loja e de frequentar bons restaurantes, está gordo, lustroso e luzidio e
desapareceu de sua base eleitoral. Se o senhor não aparece na base eleitoral e
não frequenta o plenário por onde o senhor está andando? Soubemos que o senhor
fez parte de uma comitiva que deu a volta ao mundo com o dinheiro do meu
imposto e dos demais cidadãos brasileiros e jamais revelou o que foi fazer e
que proveito para nós teve tal excursão. E ainda por cima levou a família.
Soubemos que sua sogra
fez uma cirurgia num hospital público famoso em São Paulo e aqui em nossa
cidade morreram três pessoas na fila de espera por uma simples consulta; e o
senhor havia prometido criar mais leitos no Pronto Socorro com recursos de uma
Emenda ao Orçamento da União que o senhor apresentou. Os recursos da tal Emenda
onde foram parar, pois aqui ainda não chegaram?
Soubemos que o senhor
está pensando em trocar de partido e corre o boato que no seu partido o senhor
está com nenhum prestígio porque deixou de apoiar um de seus colegas numa determinada
votação dentro do partido.
Todos aqui aguardam sua
presença porque além da curiosidade em saber em que partido o senhor disputará
a reeleição querem também saber qual o seu candidato à eleição para a
Presidência. O seu padrinho será candidato ao Senado Federal como ele vem
anunciando em alto e bom som?
Continua.
Enviado por Daguinaga em 23/01/2010 in Recanto das Letras ´Reeditado em 29/08/2014
Crítica Recebida recentemente:
CARTA A UM POLÍTICO – 1ª. PARTE
"Este conto epistolar utiliza a correspondência escrita para criar uma narrativa com tom de denúncia, permitindo uma conexão profunda com a realidade apresentada na politica. O tom crítico e irônico é bem construído, tornando a carta envolvente e reflexiva".
Nenhum comentário:
Postar um comentário