Conteúdos da Caixa

março 18, 2024

UM MINICONTO

APRISIONADA 


Uma tela metálica aposta à janela, malhas finas. Intransponíveis.

A janela oposta estava fixa em seus batentes, impossível abri-la.

A porta de acesso ao aposento permanecia semiaberta, sempre.

A criatura tentava escapar pela janela. A luz de um amanhecer dourado era o que ela via, através da tela. Poderia escapar pela porta.

Tentou o dia inteiro atravessá-la. Exausta, adormeceu.

Findou o dia.

Amanheceu. Um estreito raio de sol penetrava pela fresta da porta entreaberta,

A criatura despertou, voltou à janela aguardando a luz dourada retornar.

Tentaria escapar novamente.

Uma brusca rajada de vento fechou a porta.

 

daguinaga


março 17, 2024

O REINANTE - FINAL

 No entanto as eleições se aproximavam e a oposição resolveu agir. Fez uma campanha monumental, com a mesma tática da situação: redes sociais e fake News. E ganhou a eleição com uma diferença ínfima de votos. 60% para o vencedor e 59,9 % para o perdedor.

O país só não entrou em guerra civil porque Zeus não quis e o povão também não quis.

O perdedor cismou que a eleição foi fraudada, seus seguidores aprontaram a maior baderna da história recente da Pátria.

O eleito tomou posse do cargo, mas tá custando a engrenar. Por azar seu a Assembleia tem uma maioria que não o apoia e que mostrar serviço.

O ex governante entrou em ano sabático e deixou a cargo de seguidores e outros admiradores cuidar do espólio.

O conselheiro, cumpridor dos deveres, além dos processos antigos ganhou mais um: investigar o ex governante pelo desgoverno e os crimes de que é acusado (desde a época do anonimato, vixe!).

Volto a dizer: “tudo como dantes no quartel de Abrantes”.

O atual reinante, digo Governante, vive viajando ao exterior com sua nova primeira dama (acho que ela manda mais que ele), deixou no governo nas mãos dos gabinetes; conseguiu emplacar no Conselho dois ministros de sua inteira confiança.

O país além de pior das pernas, vai mal de braços e da cabeça também. Sua popularidade tá mais rasa que o Riacho Fundo.

O povão tá nem aí. Tem pão, picanha, futebol, carnaval, praia e outras ‘cositas, mas’ ...

E o mundo segue girando e a Lusitana rodando.

E que Zeus nos livre de outra peste, bastam as três últimas.

 

daguinaga

O REINANTE PARTE II


Sua estratégia era deixar para os outros os pepinos e abacaxis que surgiam, dedicando-se à preservação da própria imagem, de bom moço, cumpridor dos seus deveres, patriota e modesto. Passava mais tempo montado em sua ‘bike’ motorizada (e barulhenta) do que sentado na cadeira de governante. Adorava trilhas, ralis e enduros, bem como passeatas que arrastavam multidões de ciclistas, charretes, jipes e outros veículos improvisados. Importava seguir o líder ...

O país cada vez pior das pernas, balança comercial desbalanceada, acordos internacionais interrompidos, um desprestigio enorme para o país que já chegou a ser a sexta economia mundial. E o governante ‘tava nem aí’ pros conselheiros e os críticos do governo.

Com muita insistência dos seus ministros mais relevantes, permitia entrevistas coletivas, acesso da imprensa e aparições públicas. Fazia uso constante das redes sociais para falar diretamente com seus fieis seguidores. Nestas falas dizia que a imprensa produzia noticias falsas ou ‘fake News’, sobre ele, seu governo e sua família.

Para piorar a situação, uma peste importada avançou pelo território nacional, adoecendo e matando milhares de pessoas, país afora... Foram dois anos de debates sobre como solucionar a crise de saúde pública. Uma vacina foi anunciada por um laboratório no exterior; foram necessários meses de negociação para sua adoção. Finalmente, após três anos a peste foi debelada. Tudo parecia voltar à normalidade, tudo voltando a funcionar. Uma das novidades que demonstrou bastante aceitação foi a invenção o ‘home office’. Uma das medidas para evitar o contágio, depois foi institucionalizada. Esta inovação ocasionou uma grande alteração nos hábitos das pessoas, nas empresas, comércio e vários outros serviços.

Neste período de governança ‘carismática’ foi constatado que aumentou o numero de miseráveis no país, pessoas passando fome, produtos escasseavam e encareciam. Todavia não havia revoltas entre a população, uma ou outra greve se manifestava. “Tudo como dantes no quartel de Abrantes”.

Porém tomou forma, relevância e publicidade o trabalho de um conselheiro da justiça – deve-se esclarecer que este conselho era independente do governo, embora o governante pudesse escolher um membro na vacância de um cargo no conselho, por aposentadoria, morte ou desistência do ocupante. Do conselho faziam parte também um procurador da República e um advogado geral da União, ambos eleitos por seus pares, cabendo ao governante nomeá-los. Geralmente o governante acatava os mais votados. Estes servidores costumavam ser ‘pedras no sapato’ do governante em alguns assuntos do desinteresse deles.

Pois bem, alguns seguidores do líder governante passaram a implicar com o tal conselheiro; principalmente o gabinete doméstico. Denúncias começaram a pipocar e eram acatadas pelo severo conselheiro. E a coisa ficou séria.

CONTINUA

daguinaga

O REINANTE PARTE I


 

O REINANTE - PARTE I

Contaram-me a seguinte fábula:

Havia um país, semidemocrático (porque não havia igualdade social), governado por um sujeito eleito com expressiva votação. Oriundo da Baixa Classe Média obteve reconhecimento  (por mérito próprio, diga-se)      revelou-se um líder. Julgava-se ungido por deuses do Olimpo. O tempo passou, o sujeito emergiu do semianonimato e decidiu assumir a liderança do povo, novamente.

Oportunista, aproveitou a ocasião em que o País andava mal das pernas, lançando-se como candidato ao governo central, com a promessa de arrumar a casa (o País). Foi eleito e teve a fortuna de eleger consigo a maioria dos representantes da assembleia geral (a câmara legislativa), contando com o seu irrestrito apoio para o ‘que der e vier’...

Formou seu governo com seus amigos e colegas de anonimato. Fez uma reforma geral nos escalões do governo, nomeando pessoas de sua confiança. À insipiente oposição restou resignar-se.

O governante formou seu gabinete, ou melhor, seus gabinetes. O ministério e seus escalões, o gabinete da inteligência e o gabinete doméstico (ao longo do governo, demonstrou ser o mais importante de todos).

Além dos gabinetes ‘oficiais’, havia um outro ‘oficioso’ para assessorar o governante em assuntos diversos, principalmente manter polida sua imagem de líder salvador da Pátria.

O gabinete doméstico, em associação (secreta) com o gabinete ‘oficioso’ dava as cartas, isto é, definia e implementava os rumos do governo. As mídias sociais se revelaram excelentes meios de comunicação, para o bem e para o mal.

Além, dos ministros responsáveis pelo funcionamento da máquina estatal, havia funcionários públicos designados para a o serviço pessoal do governante, para sua segurança e outras ‘cositas mas’ ...

Para o serviço pessoal, estavam disponíveis um ajudante de ordens e três ajudantes de ‘desordem’.

O governante tinha quatro ex-esposas, que integravam o gabinete doméstico, juntamente com ex-funcionários dos tempos de anonimato. Os filhos tinham seus próprios negócios, com exceção de um deles que figurava nos bastidores como Superego do pai – eminência branca.

Foram cinco anos de desgovernança, para os padrões internacionais e para a oposição, em particular. Nas votações importantes na assembleia, a oposição perdia todas e o governante cada vez mais fortalecido.

 

CONTINUA

daguinaga

março 16, 2024

 

ser poeta

amo versos fazer,

cordel e quadrinhas.

sinto imenso prazer

em compor as trovinhas.

 

escrever um poema

exige do autor

muito mais que um tema

um dom de escultor.

 

as palavras modela,

as ideias dá forma,

sua alma revela,

em poesia se torna.

 

um poeta eu não sou,

sinto muito em falar,

o que a alma ditou

eu não sei expressar.