dezembro 19, 2019
dezembro 17, 2019
dezembro 16, 2019
MAIS UM DIA
Pensei em ser jornalista, depois virar uma escritora.
Todavia, não tenho a disciplina exigida para a profissão.
Admiro esse talento
raro – disciplina – a técnica, o estilo, o gênero são acessórios.
Admiro também o trabalho dos tradutores; creio que
muitas traduções são melhores que os originais. Deveria existir prêmio literário
para tradução. Será que existe?
Gosto muito das narrativas que mesclam História e
ficção.
Gostaria de ter o fôlego de um Follet e escrever
uma saga histórica, mas estou satisfeita em escrever uns contos curtos. Já me disseram que meu problema é ser muito sintética.
Admito.
Pensei em escrever sobre autoajuda, mas seria uma
fraude porque não acredito nisso. Mas é um filão e tanto...
Escrever romance não me empolga; um folhetim
talvez.
Aprecio muito as crônicas.
Acho que até misturo
crônicas e contos quando me proponho a escrever. Começo escrevendo o que me vem
à memória sem definir o estilo.
Raramente faço um rascunho; outras vezes faço
um apontamento, registro uma ideia, mas ao sentar para escrever nem me ocorre consultá-los.
Sou indisciplinada, já disse.
Na época em que fui estudante eu tinha muita disciplina;
era parte da formação profissional.
Estudei métodos, normas técnicas e tudo mais
exigido para um trabalho acadêmico.
Eu me despedi da vida acadêmica, porém conservo
alguns hábitos.
Meus pais disseram que aos três anos de idade eu
sabia ler.
Não lembro.
Na casa do meu avô havia uma biblioteca dentro do seu
escritório.
Vovô foi contabilista e professor.
Descobri o Novo Mundo entre
tantos livros e jornais.
Os primeiros favoritos foram os volumes da Encyclopedia
– enormes e fartos.
Delta-Larousse ou Britannica? Não me lembro.
Jornal Correio da Manhã e seu Suplemento literário. Saudade.
Descobri Monteiro Lobato, Julio Verne e os HQs dos
jornais (as tirinhas).
Depois me apaixonei por Machado de Assis.
Ultimamente
tenho paxonite por Laurentino Gomes e por Silviano Santiago. Nélida Piñon foi
muito querida e Garcia Marques meu herói.
Amei os portugueses culminando com
Saramago.
E não posso deixar de fora as Mitologias.
Adorei ler o britânico Alan
Parker e os americanos Philip Roth, Herman Melville e John Steinbeck, dentre
tantos outros.
Não posso me esquecer do alemão Thomas Mann e de “Os sofrimentos do jovem Werther” do também alemão Goethe.
E sobre os antigos, ficavam na cabeceira da cama “O elogio à Loucura”
do Erasmus e o “Decameron” de Giovanni Boccaccio.
e os Gregos clássicos?
a literatura argentina?
os franceses?
vida curta!
ANO PASSADO
Fui com a pimpolha II a Búzios.
Ela escolhe lugares inusitados!
Já estive
com ela na Bahia – uma ilha chamada Boipeba (depois escrevo sobre a temporada).
Em Búzios nos hospedamo num Hostel recém-inaugurado.
Foi, em passados dias, um hotel depois abandonado.
Hoje
reformatado é uma linda hospedaria.
Como todo hostel que se preze tem funcionários voluntários, tanto brasileiros
quanto estrangeiros.
Há os funcionários fixos, moradores da região, estes
encarregados dos serviços da faxina diária.
Conheci gente bacana e talentosa: músicos, artesãos, barmen dentre
outros.
O dono do hostel merece uma narrativa à parte. Um cara que a gente
ficaria escutando seus ‘causos’ a vida inteira...
A temporada na praia teve muito mais do que o mar e a areia.
Se eu acreditasse em alma, diria que a minha voltou bronzeada.
DIA DEPOIS
Meu
personal me ajudou com os pintinhos quando os comprei.
Instalou uma lâmpada no
viveiro para mantê-los aquecidos.
Quando ele vem para as sessões de Pilates
sempre dá uma espiada no sobrevivente; Tupi, hoje um formoso galo. Era pretinho
quando bebezinho depois trocou a penugem por penas de Carijó (daí o nome Tupi –
time da cidade). Cresceu e ganhou nova plumagem, hoje um carijó mestiço com
amarelo.
O conjunto da plumagem lhe dá um ar aristocrático, além de ter um
porte soberbo.
Sobre
o personal: ele sabe que odeio exercícios e se os faço é para manter a
flexibilidade do corpo e evitar a ferrugem das juntas, articulações e outros
males que fazem da velhice uma chatice...
Tive
uma tendinite no quadril e o ortopedista (especializado em quadril) recomendou
Pilates para o tratamento. As aulas foram, assim, ajustadas. Os exercícios são
planejados para cada sessão.
Livrei-me
da tendinite.
Eu,
talvez por não gostar de exercícios físicos, tenho dificuldade de sincronizar a
respiração com os movimentos, pior ainda, de me manter em equilíbrio nos
exercícios com a bola ou coordenar pernas e braços nos exercícios de solo.
Para
facilitar as coisas, eu dou um apelido para cada exercício.
O personal usa o
nome técnico e eu faço a minha versão: na minha cabeça surgem os nomes dos
atletas brasileiros, então associo o exercício à especialidade
do atleta.
Já
mereço um bronze.
dezembro 15, 2019
OUTRO DIA
Ganhei
no dia das mães um galo e três galinhas (pedi como presente).
Eu havia comprado
três pintinhos para criar em viveiro.
O
galo e duas galinhas morreram (vieram doentes).
Sobrou a Chica que mostrou
serviço botando ovos diariamente e caiu no choco parindo 13 pintinhos.
Comprei
outras galinhas e os pintinhos da Chica cresceram.
Dos três pintinhos que eu havia
comprado anteriormente apenas um sobreviveu e virou o Rei do Galinheiro – é o
atual galo.
Pois
a Chica recomeçou a botar ovos, e a casca dos ovos tem coloração azul.
As outras
duas galinhas, Tarsila e Caetana também botam ovos.
Apareceu um lagarto que atacou a Chica quando ela defendia seu ovo.
Eu ouvi o ‘auê’
no galinheiro, mas só percebi o ferimento dias depois.
Um rasgo enorme na
região da coxa.
João e eu nos revezamos nos curativos, e a ferida fechou e
Chica recomeçou a botar seus ovos de casca azul.
O
lagarto continua rondando, mas está de sobreaviso: ensinaram-me a caçá-lo e se
bobear vai virar churrasco...
DIA SEGUINTE
João,
o pedreiro, veio construir o ‘quartinho das ferramentas’.
Calado,
simpático e caprichoso com a obra.
Errou
no cálculo das telhas, única bobeira em serviço.
Comprei
as faltantes e o quartinho ficou ‘joia’.
Chegou cedo com uma novidade; a companheira deu um ultimato: ou casa ou vaza. Vai
voltar pra sua cidade.
Quê
que é isso João?
Não
quero casar. Vou voltar.
A
companheira de João é irmã do jardineiro que me apresentou ao João
pedreiro; por motivo de doença o jardineiro parou de trabalhar, mas sugeriu deixar o João fazendo
o serviço da jardinagem.
Topei
na hora, embora João viesse de sua cidade uma vez por semana pra dar conta do
serviço.
Tive
um ‘insight’:
João,
enquanto você não arruma outro serviço e não quer de fato ficar na sua cidade pode
ficar aqui em casa; pode se alojar no quartinho das ferramentas...
Outro
‘insight’:
João,
a obra do atelier tá parada pela falta de dindim pra concluir, então você se
acomoda na cozinha que tá pronta e vai ficando...
O
combinado foi eu lhe pagar a diária da jardinagem, mas João faz mais por sua
conta e risco, disse que não pode ficar parado aguardando rolar algum trampo.
Passei
a oferecer café de manhã, uma sobremesa e uma janta (ele diz que só gosta de
jantar).
É
bom conversar com ele, puxar um papo, trocar ideias. Ele é reservado, muito na
dele. Timidez de mineiro?
Um
anjo sem asas caiu no jardim.
SEGUNDA-FEIRA
Um
homem passa todas as manhãs com sua ‘bike’ motorizada e um radinho de pilha. O
horário é o de sempre a música é sempre outra. Vai a caminho do trampo.
Outro
homem espera o ônibus na esquina; não é um ponto de ônibus ‘oficial’, isto é, não
autorizado, mas o motorista dá uma paradinha.
Sempre no mesmo horário o ônibus
às vezes é outro, costuma atrasar.
Vai a caminho do trampo.
O
ônibus que vem do centro da cidade faz parada na esquina oposta; descem as ‘funcionárias
do lar’; um grupo colorido de mulheres a caminho do trampo: um condomínio
classe média nas proximidades.
As
vans escolares circulam buscando as crianças rumo às escolas.
É
dia do caminhão da coleta dos ‘resíduos domésticos’.
Seus tripulantes se
equilibram na caçamba; uma boca gigantesca que tritura tudo.
O horário costuma
variar, às vezes o caminhão não passa. Algum defeito talvez.
A
Kombi do verdureiro também cumpre horário matinal.
Mais
tarde surgem os motoboys distribuindo suas ‘deliveries’: garrafões de água, botijões
de gás, ração.
Sem horário fixo, passa o carteiro também com sua moto.
Eu
fico na varanda espiando o movimento.
Faço do horário dessa turma o meu horário
matinal: vou cuidar das plantas.
Meu
trampo.
MESMO DIA
E
os buracos do asfalto?
Quando
parar de chover conserta.
A
chuva leva tudo.
Nem
tudo a chuva lava...
DIA SEGUINTE
Barulho
das máquinas. Caminhões circulam. Operários ziguezagueiam.
A
coleta das águas pluviais é com outro departamento, moça.
Essa obra é para
coleta de esgoto.
A
Companhia é de Água e Esgotos?
Agua
de chuva é com a Secretaria de Obras.
Vocês
são terceirizados?
É
com a gente não.
Vou
comprar galochas.
UM DIA DEPOIS
Sol
e nuvem resolveram brincar.
Ao
esconder o sol a nuvem se derramou em chuva.
A
chuva se foi e o sol se esparramou dourando a grama molhada.
Gotinhas douradas
também revestiam as folhas do bordo plantado defronte a varanda.
Comprei
a muda em São Paulo e já está uma linda árvore adolescente.
Já
perdeu as folhas no inverno passado e hoje enfeita o jardim.
Chato
pisar em poças d’água formadas ao longo da passarela que vai até o portão.
Aguardo
a prefeitura concluir as obras para drenar a água que invade o jardim.
Há
muito espero a conclusão das obras.
Outras
obras pelo bairro.
Já
passaram quatro prefeitos com mandatos renovados desde o início da obra.
Faça as contas ...
Políticos.
Aff!
LONGO DIA
Inauguraram
um super, hiper mercado atacadista e varejista.
Longas filas se formam em
direção aos caixas.
Aos domingos a população em peso tem encontro marcado lá.
Carrinhos de compras cheios de ilusão e no estacionamento os carrões vazios
preenchem os espaços demarcados com linhas amarelas.
Levei
minha sacolinha reciclável.
Comprei um vinho barato, nacional, frisante,
branco.
Gostoso geladinho.
No
shopping a juventude classe média vai ao cinema.
Três D.
Vida
virtual.
Comprei
um livro.
Procurei por um autor fora do estoque da livraria.
Terei que recorrer
ao Amazon.
Entrega ‘Prime’ rápida.
De
qualquer forma esperarei.
Enquanto
isso, online.
Vida
real?
DIA SEGUINTE
Estão
vendendo a Pátria por uma micharia e há quem barganhe.
A
vida é uma ‘slackline’, alguém disse.
Corda bamba.
Sou
uma equilibrista sem vara e sem equilíbrio.
NOVO DIA
Muitas
novidades. Muitas notícias. Umas ótimas, outras mais ou menos e o resto
lastimável.
Ótimas:
galinhas ciscando, ovelhas pastando, passarinhos e borboletas circulando.
Flores se abrindo e o tempo passando mais rápido que a batida de asas dos
beija-flores.
Mais
ou menos: muita chuva e pouco sol; às vezes muito sol e pouca chuva. De um
jeito ou de outro, todos se divertem.
Lastimável:
as guerras prosseguem, há milhões de refugiados, a riqueza nas mãos de poucos e
a pobreza nas mãos de muitos.
E
o clima cada vez mais degringolado.
RASCUNHOS DIÁRIOS II
MEIO DIA
DONNA
está hospedada numa casa de repouso. No inicio não gostou, reclamou, disse que
fugiria. Não sabia porque estava lá.
Fui
visita-la algumas vezes e depois dei um tempo.
Tive
notícias recentes, inclusive me enviaram uma foto pelo WhatsApp.
Ela
está com ótima aparência e tem afirmado que está de férias. Sente-se em casa.
Em
sua própria casa era uma estranha no ninho. Devido às falhas de memória, o
perigo de quedas e outros riscos a casa sofreu uma reorganização; DONNA
estranhou e passou a ficar reclusa em seu quarto.
Por
uma série de razões que não merecem comentários Donna foi levada à casa de
repouso. Excluída a decoração, o ambiente é agradável. Donna ainda não pediu
pra ir embora de lá.
UM DIA COMO OUTRO
Eu me olho no espelho e vejo a imagem de DONNA refletida; eu não gosto do que vejo.
Um retrato desagradável de uma
pessoa que sempre me pareceu ter duas faces.
Eu não me lembro DONNA sorrindo para mim; a cara sempre zangada, porém sempre sorrindo para outras
pessoas.
Não conversava, só dava broncas.
Quando se aborrecia, atribuía-me a
culpa muitas vezes.
Com a idade avançada, seus traços mais
desagradáveis de personalidade e caráter se acentuaram.
Ela passou a se trancar
em seu quarto lendo colunas sociais ou resolvendo palavras cruzadas.
É chato registrar esta constatação, todavia
parte do que fui/sou se deve a tal influência.
O assunto do espelho foi recorrente nas sessões
de análise: a dificuldade em me encarar.
Creio ter feito um bom polimento nas
arestas, mas não gosto de me ver no retrato de DONNA.
Penso que ela sempre
gostou de me ver em fotos coladas em seus álbuns mais do que me ver
pessoalmente.
A cultura não
pode exigir amor ...
Eu amava a minha avó...
Detesto as unhas pintadas de
vermelho de DONNA e seu perfume forte de ervas queimadas.
UM DIA
Achei no Google a foto de um trabalho que fiz
para uma exposição, no Rio de Janeiro, de presépios de natal.
Mandei e foi
aceito um projeto para o concurso.
Imaginei um mural contendo as principais
figuras: Maria, José, o Menino, um Anjo, um jumento e uma vaca.
A obra requereu
a participação de um serralheiro para a modelagem das figuras em ferro,
silhuetas depois revestidas de corda luminosa.
Imaginei o efeito noturno da
peça iluminada.
O transporte até o local indicado pela
organização do evento foi uma verdadeira epopeia.
Contratado o transportador, peguei uma carona
no caminhão baú.
Após duas horas circulando pelo bairro da zona norte, uma
favela hoje chamada de comunidade – de acordo o discurso politicamente correto
-- chegamos ao local, a sede da associação de favelados; para nossa surpresa
não nos aguardavam e desconheciam o recebimento da encomenda.
Dezenas de ligações depois, sem consenso onde
entregar, decidi largar a obra por lá deixando a organização decidir seu
destino.
Afinal, eu fizera minha parte e cedera os direitos de propriedade ao
Festival conforme o contrato.
O episódio fez-me reconsiderar a participação
em eventos dessa natureza.
Decidi não atender a editais para ocupação de
salas, tampouco convites para exposições individuais ou coletivas; montei meu
próprio espaço expositivo onde penduro minhas criações.
A única exceção é
participar de alguns salões temáticos da organização local de artistas, da qual
sou associada e pela qual tenho grande admiração por sua longeva resistência.
Ou será resiliência?
ANTES QUE ME ESQUEÇA - EPÍLOGO
Consegui
abrir o envelope que estava vazio. Os demais envelopes estavam em branco e sem
remetente. As cartas estavam ilegíveis. Desisti de investigar as caixas e quis
retornar ao veículo, mas ele havia desaparecido. Dei-me conta de estar com sede
e caminhei mais alguns metros até encontrar uma geladeira. Abri a geladeira e
fui puxada para dentro dela onde havia uma festa e as pessoas usavam máscaras
iguais. Um garçom me ofereceu um copo e se afastou. Provei a água e bebi. Andei
pelo salão e ninguém olhava para mim, como se eu estivesse invisível. Nos fundos
do salão havia um elevador, a porta estava aberta e entrei, havia apenas dois
botões S (subir) e D (descer); apertei o S e o elevador subiu velozmente.
Quando a porta se abriu eu me vi na esquina aguardando o sinal para pedestres
abrir. O sinal abriu. Atravessei.
Do
outro lado o engraxate, encostado em seu banco, esperava fregueses.
ANTES QUE ME ESQUEÇA - PARTE II
Tive
um sonho nonsense e passei para o papel, transcrevo aqui com alguns efeitos
especiais:
O
chão se abriu aos meus pés.
Fui tragada e engolida.
Uma descida suave, como se
flutuasse no espaço.
Não havia luz, tampouco trevas. Uma neblina morna
envolvente. Não tenho ideia de quanto tempo permaneci em trânsito por aquela
via inusitada. Eu estava aguardando o sinal para pedestres abrir. O sinal abriu
e o chão também.
Meus
pés tocaram o solo macio, e o entorno fracamente iluminado me pareceu familiar.
Tive a sensação de um retorno sem que alguém estivesse à espera. Será que
encontrarei por aqui Alice, ou Dorothy?
Que
direção tomar? Teria um gato ou um coelho para ensinar o caminho? Ou quem sabe
o Chapeleiro Maluco me tomaria pelas mãos?
Achei
melhor sentar e aguardar que alguma coisa acontecesse. Vi uma cadeira de
engraxate e me acomodei. O silêncio era enfadonho. Eu estava dentro de um nada.
Ao
apoiar os pés notei que pisando sobre o apoio à direita o banco se movia para
frente; parece um acelerador, pensei. O banco possuía braços e observei dois
botões, um de cada lado. Apertei o botão direito e o banco se elevou e ao
apertar o esquerdo ele voltou ao solo. Resolvi experimentar o inusitado
veiculo. Acelerei e subi. Decidi explorar o nada voando. A paisagem parecia
imutável, apenas névoa morna; talvez eu estivesse dentro de uma bolha.
Segui
em frente por algum tempo até vislumbrar o que pareceu ser uma parede, para
evitar o choque desacelerei, porém a parede abriu como uma cortina de teatro. A
névoa morna adquiriu uma cor azulada e vislumbrei algumas formas geométricas.
Decidi estacionar o veículo e seguir caminhando por entre as formas que
pareciam enormes caixas de sapatos, todas na cor azul. Cheguei junto a uma das
caixas e bati no que me pareceu ser uma porta e a caixa se abriu. Espiei pela
abertura e vi dentro da caixa muitos selos. Bati na caixa vizinha, a tampa se
afastou e vi um monte de rolhas. A próxima caixa continha o que me pareceu
envelopes e cartas. Tentei ler o nome do destinatário do primeiro envelope da
pilha e para minha surpresa o destinatário era eu mesma.
ANTES QUE ME ESQUEÇA
A Programação da TV aberta é uma grande
porcaria e a da fechada é uma porcaria menor, mas porcaria também.
Que me
desculpem os suínos, eu deveria dizer lixo embora o termo atual seja Resíduo.
O
resíduo da TV não serve para reciclagem.
O problema consiste em desfazer-se
dele sem danos ao ambiente.
DIAS DEPOIS
Sarah, a Gata, deu um sumiço de duas semanas.
Julguei-a já morta.
Adotei o Chulé, um machinho branco.
Sarah reapareceu e não
aceitou o rival e passou a fazer xixi pela casa toda.
O gatinho apareceu morto.
Sarah continua
fazendo xixi pela casa.
Outro gatinho apareceu, porém para evitar o
estresse de Sarah, arrumei outro lar para ele.
Sarah sumiu. Não quero mais saber de gatos.
Meus cães, Tico e Teco, foram adotados logo
que desmamaram.
Tico foi apelidado Fumaça e Teco de Negão pelo vendedor de água
de coco, o ambulante dos fins de semana estacionado ao lado de minha cerca.
PS: O ambulante/estacionante faleceu.
No
domingo de noite de Super Lua, os dois não me deixaram dormir com seus latidos.
Creio que o Lobo ancestral se manifestou neste dia.
Por não conseguir dormir, fiquei vendo pela
TV um festival de Rock.
Ouvi o som de uma batida de carros e fui
espiar pela janela.
Alguém perdeu o controle e bateu num monturo de terra e
pedras da esquina.
Rapidamente se safaram.
Hoje, há terra e pedras espalhadas.
Pensei em varrer o local.
Dane-se!
O pessoal costuma fazer ‘pegas’ por aqui; já
socorri pessoas desastradas.
UM DIAS DESSES
Um filhote de passarinho caiu do ninho; uma
Saíra Sete Cores.
Consegui resgatá-la antes que Sarah, a Gata, abocanhasse o
petisco.
Consegui mantê-lo vivo apenas por uma semana.
Tentei atrair sua mamãe, porém ela não deu as caras.
O passarinho morreu de saudades.
ESTE ANO - PARTE II
Eu não gosto de escrever em livros, tampouco
grifar passagens porque odeio ler livros rabiscados. Costumo fazer anotações em
papel avulso usado como marcador de páginas. Sempre faço a doação dos livros
lidos e por isso muitas anotações se perdem.
Tenho muito cuidado em jogar papéis no lixo.
Guardo, por cinco anos, os recibos das contas pagas.
Todo início de ano novo
faço uma faxina separando com cuidado o que merece ou não ser desprezado.
Já
tive enorme aborrecimento com cobranças indevidas.
Tenho amigos que receberam na Justiça
indenizações por dano moral; eu prefiro a cautela ao processo judicial.
Acho detestável receber ligações com
cobranças, detesto também as ligações com ofertas de crédito; tenho nenhuma
paciência para operadores de telemarketing.
Alguém costuma deixar oferendas no meu
portão, o acesso até a casa constitui com as ruas vizinhas uma encruzilhada.
Tenho que varrer constantemente e lavar o meio fio por conta das comidas lá
deixadas; geralmente uma farofa enfeitada com ovos cozidos e pimenta vermelha.
Raramente deixam galinha morta.
Já deixaram galinha viva dentro de um saco com
outros componentes do ritual.
Recolhi uma imagem quebrada do Preto Velho,
colei os pedaços e guardei; recolho as tigelas também – alguidares como dizem.
Excelentes cinzeiros!
Eu recolho as oferendas que incluem velas,
que eu uso nos apagões e rosas frescas usadas para enfeite.
As bebidas deixadas geralmente são ordinárias
e baratas.
Penso que os santos merecem coisa melhor, tipo Möet & Chandon,
D. Perignon ou um Scoth 12 anos; um dia recolhi duas garrafinhas de cerveja
Caracu.
Oferendas pobres demais.
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