Conteúdos da Caixa

dezembro 15, 2019

UM DIA COMO OUTRO


Eu me olho no espelho e vejo a imagem de DONNA refletida; eu não gosto do que vejo. 

Um retrato desagradável de uma pessoa que sempre me pareceu ter duas faces. 

Eu não me lembro DONNA sorrindo para mim; a cara sempre zangada, porém sempre sorrindo para outras pessoas. 

Não conversava, só dava broncas. 

Quando se aborrecia, atribuía-me a culpa muitas vezes.

Com a idade avançada, seus traços mais desagradáveis de personalidade e caráter se acentuaram. 

Ela passou a se trancar em seu quarto lendo colunas sociais ou resolvendo palavras cruzadas.

É chato registrar esta constatação, todavia parte do que fui/sou se deve a tal influência.

O assunto do espelho foi recorrente nas sessões de análise: a dificuldade em me encarar.

Creio ter feito um bom polimento nas arestas, mas não gosto de me ver no retrato de DONNA. 

Penso que ela sempre gostou de me ver em fotos coladas em seus álbuns mais do que me ver pessoalmente.

A cultura não pode exigir amor ...

Eu amava a minha avó... 
Detesto as unhas pintadas de vermelho de DONNA e seu perfume forte de ervas queimadas.

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